(Minha crónica publicada no "Jornal Pinhel Falcão" de 2 de Dezembro de 2010)
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Vem aí o Natal…
Na minha meninice, esta data significava a aproximação do concretizar de um sonho, mantido em alta rotação e frenesim durante largos períodos de tempo do ano, antecedentes daquela Festa Comemorativa. Os presentes no sapatinho, junto à lareira, tornariam uma noite mal dormida e uma madrugada de euforia em festejos inocentes e, afinal, banalmente virtuais.
Mais tarde descobre-se então toda a falsidade e inocuidade daqueles gestos de uma história repetidamente inculcada, de um Pai Natal gordo sem substância. Uma farsa! Saber-se-á então do facto de a própria data de 25 de Dezembro não corresponder, segundo o calendário judaico, ao dia de nascimento de Jesus, pois são apontados os meses de Setembro ou Outubro como maiores certezas de o serem.
Frustrações à parte, o que é certo é que, principalmente o cristianismo veio a adoptar este período do ano como a Festa do Nascimento do Menino e, paralelamente, a considerá-lo como uma data propícia à solidariedade entre as famílias, ao amor e à confraternização entre os povos e fundamentalmente ao apoio aos mais desprotegidos da vida.
A questão dos presentes para miúdos e graúdos conduziu, inevitavelmente a um consumismo inusitado traduzido na necessidade de comprar para oferecer. Comprar qualquer bugiganga em lojas a abarrotar de gente ávida de resolver a lista de beneficiários a contemplar. Comprar, pagando tudo mais caro porque tudo aumenta por estes dias: o perú, o bacalhau, os brinquedos, as couves, as roupas, a vasta gama de ... A Sociedade incentiva ao consumo durante todo o ano numa faceta essencialmente egoística. Nesta época de Natal tolera-se o consumo egoísta e altruísta! Altruísmo de mercado, pois que se lhe junta um pouco de afecto ao consumo e... dá em presente! As pessoas são lembradas… há mais afectividade, confraternização, enfim, um Natal transformado em compra e dádiva. Altruísmo ingrato. Consumismo. Medidas de austeridade podem, quanto muito, refrear os ânimos…
Em muitos casos estamos na presença de altruísmo virtual, de fachada! Dar, ser solidário porque convém sê-lo, porque o gesto é mediatizado ou observado e aplaudido pelo mais próximo. Porque vem compensar a falha sentimental dos onze meses anteriores. Dar porque sim! Uma espécie de sentimento de culpa à superfície.
Nesta forma de dar, emerge uma certa sensibilização que se atribui a alguns princípios cristãos e ainda a alguma reflexão e complexo de culpa. Porquê? Pois, nesta época festiva come-se, regra geral, “à grande” e gasta-se também muito mais na compra de presentes ou organização de eventos ou outras formas de reconhecimento alheio. Quem faz isto, regra geral, sente culpa! E o modo de lidar com este processo psico-sociológico é favorecer os outros, de modo a que possuam alguma coisa, mais do que nada! Estamos então em presença de um modo de expiação, que, diga-se em abono da verdade, acontece durante o ano inteiro. As pessoas têm tendência a corrigir aquilo que não fizeram, praticando boas acções e assim conseguindo, do seu ponto de vista, aliviar o seu complexo de culpa.
Estes gestos de solidariedade temporária já estão enraizados na nossa cultura e acontecem geralmente em datas certas e associadas a celebrações de carácter religioso, sendo acompanhadas de uma grande propaganda e influência dos media. Representam mecanismos de defesa que permitem à pessoa tornar-se mais calma e tranquila e mais em sintonia com a sua consciência. Servem como paliativo para os sentimentos de culpa nesta consciencialização do subconsciente em que os gestos de solidariedade aliviam e ajudam a ultrapassar um estado de espírito que se rejeita.
O filósofo Augusto Comte utilizou pela primeira vez a palavra “altruísmo” em 1830, pretendendo com ela significar um conjunto de disposições humanas (individuais e colectivas) que inclinam os seres humanos a dedicarem-se aos outros”
É, portanto, uma solidariedade que se opõe ao egoísmo, o qual representa indicações específica e exclusivamente individuais (pessoas ou colectivas)”.
Mas será que, afinal, todo este altruísmo natalício é pura hipocrisia sem sentido?
Será salutar toda a parafernália de inusitados sms`s de Boas Festas, muitos deles bacocos e despropositados? E os telefonemas de pessoas de quem já não nos lembrávamos de tão ausentes? Porque se oferece tanto?
Bom, apesar da onda “solidária”, destas ofertas ou dádivas acontecerem esporadicamente e num enquadramento perfeitamente comercial, acabam, mesmo assim, por serem positivas para quem dá, na exacta medida em que não se espera nada em troca (ou não deve esperar!). O acto consciente e reflectido de dar alivia frustrações e sentimentos de culpa, atenua tensões e propicia prazer! Não é necessário prejudicar-se a si mesmo para ajudar o próprio, porque isso gerará conflitos internos de resolução difícil. Pena é que não exista constância nestas atitudes. Mas isso são outras contas de um outro rosário!
“Nada é mais útil ao homem que o homem” - disse Espinosa na Ética. Este é em síntese, o alicerce dos afectos e do comportamento altruísta.
estou a escutar John lennon,tema God.
ResponderEliminardedico-la a si João.
Abraço
A celebração do Natal antecede o cristianismo em cerca de 2000 anos. Tudo começou com um antigo festival mesopotâmico que simbolizava a passagem de um ano para outro, o Zagmuk. Para os mesopotâmios, o Ano Novo representava uma grande crise. Devido à chegada do inverno, eles acreditavam que os monstros do caos enfureciam-se e Marduk, seu principal deus, precisava derrotá-los para preservar a continuidade da vida na Terra. O festival de Ano Novo, que durava 12 dias, era realizado para ajudar Marduk em sua batalha.
ResponderEliminarA tradição dizia que o rei devia morrer no fim do ano para, ao lado de Marduk, ajudá-lo em sua luta. Para poupar o rei, um criminoso era vestido com suas roupas e tratado com todos os privilégios do monarca, sendo morto e levando todos os pecados do povo consigo. Assim, a ordem era reestabelecida. Um ritual semelhante era realizado pelos persas e babilônios. Chamado de Sacae, a versão também contava com escravos tomando lugar de seus mestres.
A Mesopotâmia inspirou a cultura de muitos povos, como os gregos, que englobaram as raízes do festival, celebrando a luta de Zeus contra o titã Cronos. Mais tarde, através da Grécia, o costume alcançou os romanos, sendo absorvido pelo festival chamado Saturnalia (em homenagem a Saturno). A festa começava no dia 17 de dezembro e ia até o 1º de janeiro, comemorando o solstício do inverno. De acordo com seus cálculos, o dia 25 era a data em que o Sol se encontrava mais fraco, porém pronto para recomeçar a crescer e trazer vida às coisas da Terra.
Durante a data, que acabou conhecida como o Dia do Nascimento do Sol Invicto, as escolas eram fechadas e ninguém trabalhava, eram realizadas festas nas ruas, grandes jantares eram oferecidos aos amigos e árvores verdes - ornamentadas com galhos de loureiros e iluminadas por muitas velas - enfeitavam as salas para espantar os maus espíritos da escuridão. Os mesmos objetos eram usados para presentear uns aos outros.
Apenas após a cristianização do Império Romano, o 25 de dezembro passou a ser a celebração do nascimento de Cristo.
O Natal, entre outras comemorações religiosas, é um exemplo da paganização do cristianismo. Ao longo da sua história, o cristianismo assimilou os cultos pagãos, dando-lhes um fundamento cristão.
ResponderEliminarO sol era, na mentalidade popular, o astro-rei: a força mística do seu calor fecunda a terra e faz germinar as sementes. Muitas representações simbólicas do sol foram assimiladas pelo cristianismo: Cristo é o sol divino. Nesse sentido, as festas do culto pagão do sol, que correspondem aos solstícios, foram cristianizadas - o Natal e a festa de S. João.
Povos politeístas e adoradores da natureza, dificilmente poderiam conceber um Deus único, absoluto e universal, pelo que, por exemplo, o culto aos santos vai substituir os deuses do gentilismo e, simultaneamente, canalizar para Deus a devoção popular.
Obrigado "Cônsul"! Bom tema! Jonh Lennon for ever!
ResponderEliminarAbraço
Desculpem o desabafo mas o natal é a época do ano que eu mais detesto.
ResponderEliminarcomo foi a visita do bispinho?
ResponderEliminarhá noticias, mais logo...
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