Mas Hamilton forneceu igualmente a primeira resposta satisfatória à pergunta: para que serve o sexo? De facto, embora poucos discordem que sexo seja bom, o caso muda de figura quando a interrogação passa para o campo científico. Isto é, em termos biológicos o sexo é bom para quê?
Já em 1889 o biólogo alemão August Weismann tinha afirmado que a função do sexo não poderia ser apenas a de permitir a multiplicação dos organismos. Para a grande maioria das formas vivas, a reprodução assexuada, nas suas muitas variantes, assume-se como a forma predominante de reprodução. E não há indícios de que as bactérias se divirtam no processo, apesar do afinco com que se dedicam à reprodução.
A via sexuada é a forma de reprodução mais dispendiosa na perspectiva biológica, não só a nível fisiológico mas, quando os dois sexos correspondem a indivíduos distintos, também comportamental. Pensemos na energia investida em cantos, danças e outras exibições altamente elaboradas dos comportamentos de corte de muitas espécies, assim como no aparecimento e manutenção de características sexuais secundárias como as majestosas plumas dos pavões macho. Para não falar no desperdício de energia na produção de machos, criaturas quase inúteis do ponto de vista biológico, criadas e alimentadas com a função específica de doarem gâmetas para fertilizar as fêmeas.
Por outro lado, como apontou em 1971 o evolucionista inglês John Maynard Smith, na corrida evolutiva, na qual a passagem dos genes à geração seguinte é um grande objectivo, um indíviduo sexuado está em clara desvantagem em relação a outro que se reproduza assexuadamente já que o primeiro apenas passa à descendência metade do seu material genético. Esta desvantagem ficou conhecida por «o custo da meiose».
Em suma, a propagação genética sexuada é mais «cara» do que a assexuada; o sexo, em termos biológicos, é um «artigo de luxo»! Qual é então a razão para que se invistam tantos recursos neste artigo de luxo?
Maynard-Smith argumentou que o sexo só poderia ter evoluído se um benefício misterioso contrabalançasse o grande custo da meiose. A proposta revolucionária de Hamilton em 1980 para o aparente paradoxo é um corolário da teoria da evolução a que se chamou a hipótese da Rainha Vermelha, denominação inspirada no livro de Lewis Carrol, «Through the Looking Glass», no qual a Rainha Vermelha diz: «Now here, you see, it takes all the running you can do to keep in the same place».
Um meio ambiente em permanente mudança, especialmente no que diz respeito a parasitas (bactérias, vírus, etc., que se reproduzem assexuadamente), é a base desta hipótese de Hamilton sobre a origem e a manutenção do sexo. Os omnipresentes parasitas têm virulência específica, afectando apenas determinados genótipos dos hospedeiros. O tempo de vida dos parasitas é muito mais curto que o dos hospedeiros, ou seja, milhões de gerações dos primeiros sucedem-se durante a vida de um hospedeiro. As incontáveis gerações de parasitas, para os quais a principal fonte de variabilidade é a mutação, traduzem-se em taxas de evolução muito maiores, deixando como única saída para os hospedeiros mais longevos a reprodução sexuada e a produção de filhos diferenciados geneticamente e eventualmente resistentes aos parasitas.
Segundo Hamilton, uma «corrida às armas da adaptabilidade genética» entre hospedeiros e parasitas ocorre desde que a vida surgiu na Terra. Os parasitas estão sempre a furar as barreiras defensivas do genótipo dos hospedeiros, enquanto estes, com a ajuda do sexo, criam continuamente novas defesas. Na ausência do sexo, os hospedeiros permaneceriam geneticamente inalteráveis e seriam exterminados quando os parasitas conseguissem derrotar o sistema imunológico dos hospedeiros.
Hamilton desenvolveu uma visão parasítica do mundo que explica até a evolução de características sexuais secundárias como as cores brilhantes de alguns pássaros: propaganda genética. De facto, as fêmeas são muito exigentes na escolha dos machos com que acasalam e procuram garantias que o macho escolhido tenha «bons genes» contra parasitas. Para isso é necessário que os machos as convençam da excelência dos seus genes. Para evitar «gabarolices», isto é, publicidade enganosa, as provas da boa qualidade genética são muito dispendiosas em energia: apenas indivíduos com bons genes as conseguem exibir.
Os parasitas acompanharam Hamilton até ao fim da sua vida. Em 2000, numa expedição ao Congo, Hamilton contraiu malária tendo morrido pouco depois.
Posted by Palmira F. da Silva
sexo é sinonimo de mulher. Mulher é ponto de interrogação e/ou exclamação!
ResponderEliminarSexo básicamente é isto.
???? lesbiana ou gay????
ResponderEliminarcoisa.
ResponderEliminarcheirou-me que sim.
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